GRANDES NOMES
RUI ÁGUAS
Rui Águas, O Príncipe.
O que se pode dizer sobre ele?
Bem, se pudesse escalar os meus jogadores favoritos em posições-tipo, Rui Águas
seria o mais sério candidato a figurar na posição de avançado. Foi um dos meus
ídolos de sempre, tive vários... Um para cada posição claro...
Tenho muita dificuldade em
dizer que Portugal já teve outro grande avançado depois dele abandonar a
carreira. O pai, José Águas teve a felicidade de ter um
sucessor que foi o José Torres. O José Torres foi rendido por Nené. Depois de
Nené (e Jordão porque não), o futebol português teve Gomes e Manuel Fernandes
que foram sucedidos por Rui Águas... Depois de Rui Águas nada aconteceu.
A geração de Queirós não
produziu avançados de luxo mas sim médios defensivos e ofensivos e apoiantes de
luxo ao avançado. João Pinto era segundo avançado. Não me falem de Sá Pinto.
Nem quero ouvir a palavra Pauleta (por favor). Nuno Gomes era segundo ponta de
lança... Ronaldo idem. O Éder?
Não houve mais ninguém como
o Rui Águas. Pode-se afirmar que abraçou o legado do pai mas o Rui não foi a
extensão do braço ou da cabeça de José águas. Foi sim RUI, simplesmente o maior
de todos os que eu vi com os meus olhos.
A genética é um conceito
complexo. Talvez Rui tenha herdado algo de substancial do seu pai: Eram ambos
Benfiquistas, foram os dois avançados e ambos tinham um firme espírito de
equipa, vinham muito atrás ajudar o meio campo (talvez mais o Rui). Um dos
factores que julgo poder ajudar a diferenciar o pai do filho é que Rui praticou voleibol na sua adolescência, e foi uma coisa a sério.
Daí aquele seu tempo de salto fantástico que era fortíssimo na impulsão,
manutenção e explosão final... Que o fazia ganhar bolas a adversários mais
altos...
Tal como o pai, também tinha
o dom da visão periférica e tremenda capacidade projectiva, daí estar virado
para a linha lateral olhando para a bola (12 horas) e rematar/cabecear essa
mesma bola para outra qualquer hora onde a baliza estivesse.
O Rui não vingou nas camadas
jovens do Benfica e foi à sua vida para evoluir num tal de Cultural da Pontinha
e... No sporting, pffffffffff... O resto do seu trajecto até chegar ao Benfica,
podem ler nestes artigos:
Fala-se que o Sporting e o
Porto o quiseram ir buscar a Portimão. Mas foi o Benfica quem venceu a
corrida...
A primeira fase no Benfica
foi de ascensão, teve de destronar Michael Manniche o que não era tarefa fácil
mas depois só o céu foi o limite e ele lá chegou em 1987-1988 na tal meia-final
da Taça dos Campeões Europeus frente ao Steaua de Bucareste.
Depois, aconteceu o tal
caso. Um verdadeiro terramoto nos corações dos Benfiquistas: Rui Águas vai para
o Porto.
Agora, à distância de quase
trinta anos, apetece-me dizer que o Benfica, mais concretamente Gaspar Ramos,
se fiou muito no historial da família Águas e olhou com indiferença o
individuo. Também se confiou em demasia num tal pacto de não agressão entre os
três grandes... Conta-se que, em desespero pelo conhecimento do interesse
alheio, foi feita uma nova proposta de renovação do Benfica que continha
melhorias salariais mais prémio de assinatura. Mas Rui Águas, ao que parece, já
tinha dado a sua palavra .
Também é público que haviam
propostas de França e de Itália (duas, uma da Fiorentina de Eriksson e outra de
um tal de Pescara).
Diz-se que a proposta do
Pescara da série A, até era uma uma proposta superior à do Porto...
Também se conta que o feito
portista se deveu ao facto de o Benfica ter contratado Ademir ao Guimarães numa
altura em que o porto estava prestes a finalizar a sua transferência. Vai daí
que o pessoal do norte se decidiu vingar...
Talvez avesso a idas para
longe uma vez que era pai de duas crianças, Rui Águas aceitou a proposta do
Porto onde foi ganhar onze vezes mais do que ganhava no Benfica... Se colocarem
na equação o facto de que haveriam jogadores na segunda divisão a ganhar mais
do que ele no Benfica... É de engolir a seco não é?
Foi coisa que abalou o
Benfica...
O certo é que Rui Águas
espalhou a sua magia... de forma menos reluzente lá no norte. E se foi lá
campeão uma época, no entanto, não conseguiu marcar um único golo ao Benfica,
valha-nos isso...
Até há uma história curiosa
que se conta quando o Rui ia jogar contra o Benfica na Luz: Ao anunciar o
alinhamento das equipas, o speaker da altura dizia sempre "com o nº 9
Rui"...
Inteligente o Rui, afirma-se
que exigiu uma cláusula no seu contrato que lhe facilitaria a saída quando ele
o quisesse... Esteve no Porto (clube condenado por corrupção) duas épocas a
ganhar onze vezes mais do que ganhava no Benfica e talvez pudesse ter lá
continuado até ao fim da carreira a ganhar vinte ou trinta vezes mais... A
verdade é que, digo eu, o coração estava na profissão certa mas no lugar
errado. A verdade é que a cabeça terá começado a notar na pele que ali, a base
do sucesso eram coisas "estranhas"
No final dessas duas
épocas...
Sim, era o futuro que estava
ali na mão. Uma vez que o Benfica queria regressar rápido e de forma
equilibrada mas pujante ao título de Campeão Nacional... E continuar a dar
cartas na Europa!
Quando ele regressou ao Benfica com Eriksson e
Toni no leme. Ricardo Gomes na defesa com Veloso, José Carlos... Thern,
Hernâni, Valdo, Schwarz, paulo sousa, Paneira, Pacheco, César Brito, Isaías,
Vata e Magnusson? Ufa! Que coisa... Era de rebentar!
E o Benfica regressou ao
topo do pódio do futebol português, nessa época de 1990 1991.
Rui Águas até foi o melhor
marcador do campeonato nacional com 25 golos, feito que o país pôde assistir em
directo na Rtp. Era a última jornada do campeonato e Rui estava a disputar o
troféu com domingos taco-a-taco, tendo o portista desatado a marcar golos ao
Guimarães de forma estranha... E Rui Águas nada... O Benfica nada e todos
jogavam para o Rui mas nada.
Nada até ao final onde,
depois de Magnusson ter aberto o marcador, Rui fez o dois-zero e já com um
terço do estádio bem junto ao relvado pronto para a invasão... Neno pontapeou,
Magnusson assistiu e Rui marcou o terceiro... Apoteótico!
José Águas até desceu ao
balneário para as objectivas retratarem este momento histórico... De facto um
momento de emoções avassaladoras, pai e filho como os melhores marcadores. O
sorriso de José Águas como que a agradecer e a dizer que "Eu sabia que ias
conseguir".
Na época seguinte, Rui Águas
foi visitado pela senhora lesão. Uma atrocidade para tão valioso avançado.
Lembro-me perfeitamente do
lance - entrada por trás sem punição. Lembro-me da preocupação... Do Rui a
levantar o braço e a fazer um OK para que toda a sua família... E adeptos
ficassem menos preocupados. Fiquei com a ideia de que independentemente
do valor do plantel, iria ser mais difícil... E foi!
Rui só regressou à
competição no final da época e o Benfica teve de se valer de Isaías, Iuran,
Magnusson e César Brito. Talvez tivesse sido melhor com o contributo do bola de
prata, talvez! O segundo lugar no campeonato e uma meritória campanha na
PRIMEIRA EDIÇÃO DA CHAMPIONS, foram os resultados finais daquela época...
O corpo humano regenera-se
destas coisas mas não volta a ser o mesmo. Rui sempre tinha sido um jogador
corajoso e sofredor: Na tal meia-final dos campeões frente ao steaua, o Rui
jogou cheio de dores pois sofreu uma fractura nos ossos do dorso... Em 1992
1993, foi ainda o avançado principal do Benfica ... Em 1993 1994, já com 34
anos, marcou golos importantes mas a sua carreira no Benfica e ao mais alto
nível, terminou ali. Terminou como campeão!
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