terça-feira, 5 de julho de 2016

GRANDES NOMES

ÁLVARO GASPAR




Lisboa. 10/5/1889 - 3/9/1915
Épocas no Benfica: 3 (11/14).
Jogos: 16. Golos: 18.
Títulos: 3 (Campeonato de Lisboa).




Rezam as crónicas que no primeiro de Janeiro de 1905, o então Sport Lisboa disputou o jogo inaugural de uma caminhada que talvez ninguém vaticinasse no mínimo centenária. Foi frente ao Campo de Ourique, nas Salésias (em Belém), com triunfo 1-0. Já depois da fusão (13 de Setembro de 1908) com o Grupo Sport Benfica, mais tarde Sport Clube de Benfica, da qual resultou o actual Sport Lisboa e Benfica, o Campeonato de Lisboa era a prova dominante. Assim, foi até quase à década de 30.



A temporada de 1913/1914, no inicio da I Guerra Mundial, ficou na história do novel clube. O Benfica venceu a edição em todas as categorias, quatro eram. Fez o pleno. Ainda que grosseira a comparação, seria um tanto como na actualidade garantir a conquista, no mesmo ano, dos Nacionais de infantis, iniciados, juvenis, juniores e seniores.



Nesse longínquo 1914, um jogador sobressaiu aos demais. Álvaro Gaspar era o seu nome. De alcunha Chacha, avançado de posição. Com Paiva Simões, Homem de Figueiredo, Henrique Costa, Cosme Damião e Artur José Pereira, todos integrantes da Selecção de Lisboa que, um anos antes, havia digressionado pelo Brasil. Viviam-se tempos de futebol casto. Insipiente.



Álvaro Gaspar actuou três anos com o emblema do Benfica. Outras tantas vezes venceu o Campeonato de Lisboa. Reputavam-no executante fantástico, já tecnicamente perfumado, com sentido de organização, temível a finalizar. Havia ingressado nas fileiras do clube pouco depois da fundação. Assistiu apenas ao primeiro desafio oficial, a 4 de Novembro de 1906, frente ao Carcavelos, a melhor equipa do ano, com derrota por 3-1. Ele que se iniciou no patamar inferior, na terceira categoria, sempre em espiral, até à turma de honra.



Em Março de 1913, relatos na época mencionam que aos ombros havia sido levado, até aos balneários pelos componentes de uma equipa inglesa, o New Cruzaders, maravilhados com os seus atributos de índole técnica. Numa espécie de paleolítico superior, naqueles pré-história do futebol aborígene, o Chacha parecia de outro estádio de desenvolvimento. A  melhor exibição, pelo menos a mais produtiva, realizou-a em Dezembro de 1913. O Benfica aturdiu (9-0) o Cruz Quebrada, com cinco golos de Álvaro Gaspar. Sempre na presença do tutor Cosme Damião, lenda benfiquista, fundador, jogador, técnico, dirigente.  Aquele que “fez do Benfica o maior clube português”, segundo o mestre Cândido de Oliveira.



Álvaro Gaspar contribuiu, embrionariamente, para o estatuto singular e não menos invejável do clube. Com aura popular. Ainda na casa dos 20 anos, adoeceu e deixou de jogar. Mesmo desaconselhado pelos médicos, não perdia pitada dos jogos da sua equipa de afeição. Minado pelo infortúnio, morreu a 3 de Setembro de 1915, foi sepultado no cemitério da Ajuda.


O FUNERAL DE ÁLVARO GASPAR


Em agonia, antes de morrer, utiliza as últimas palavras para fazer dois pedidos: Abracem o Cosme Damião, capitão e companheiro de lutas passadas e que o caixão seja coberto com a bandeira do Benfica, do Clube que tantas vezes defendi!

Chegados até aqui, a este marco triste, sempre o último para qualquer ser humano, o funeral distingue-nos dos restantes espécies animais. Para estas o último "marco" é a morte (penúltima para os humanos).

Vai fazer 101 anos, no dia 4 de Setembro, estava a ser velado para perfazer 24 horas de morto (21 horas de dia 3 às 21 horas de dia 4) e poder ser sepultado, pelas 10:30 horas da manhã de 5 de Setembro de 1915.


 Sua ultima morada Rua dos Jerónimos nº. 24 r/c



  
Nada mais há acrescentar que publicar as notícias da Imprensa (que ilustram bem a popularidade do jogador em 1915). Depois o relato do funeral, passam amanhã 99 anos. E finalmente um texto - mais um - brilhante de António Ribeiro dos Reis publicado no jornal "O Sport de Lisboa" n.º 107 em 11 de Setembro de 1915. Uma semana depois do falecimento e enterro.




Em 4 de Setembro de 1915


A Capital


O Século 


Em 5 de Setembro de 1915   Diário de Notícias 
 O Século 


Ilustração Portuguesa n.º 500 
DESPEDIDA






  


A MAIS BELA HOMENAGEM QUE SE PODE TER


 António Ribeiro dos Reis

O Sport de Lisboa n.º 107; 11 de Setembro de 1915



QUE DURMA EM PAZ!






Álvaro Gaspar a primeira Glória a deixar prostrados os Benfiquistas. Pela Idade. Pela Desgraça. Pelo Valor. Pelo Futebol. Mas acima de tudo pelo Benfiquismo! Poderá haver muitos que sejam tão Benfiquistas quanto foi o "Chacha". Nunca haverá ninguém que o seja mais do que ele foi! E é! Porque passados cem anos ainda falamos nele!

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