GRANDES NOMES
ÁLVARO GASPAR
Lisboa. 10/5/1889 - 3/9/1915
Épocas no Benfica: 3
(11/14).
Jogos: 16. Golos: 18.
Títulos: 3 (Campeonato de
Lisboa).
Rezam as crónicas que no
primeiro de Janeiro de 1905, o então Sport Lisboa disputou o jogo inaugural de
uma caminhada que talvez ninguém vaticinasse no mínimo centenária. Foi frente
ao Campo de Ourique, nas Salésias (em Belém), com triunfo 1-0. Já depois da
fusão (13 de Setembro de 1908) com o Grupo Sport Benfica, mais tarde Sport
Clube de Benfica, da qual resultou o actual Sport Lisboa e Benfica, o
Campeonato de Lisboa era a prova dominante. Assim, foi até quase à década de
30.
A temporada de 1913/1914, no
inicio da I Guerra Mundial, ficou na história do novel clube. O Benfica venceu
a edição em todas as categorias, quatro eram. Fez o pleno. Ainda que grosseira
a comparação, seria um tanto como na actualidade garantir a conquista, no mesmo
ano, dos Nacionais de infantis, iniciados, juvenis, juniores e seniores.
Nesse longínquo 1914, um
jogador sobressaiu aos demais. Álvaro Gaspar era o seu nome. De alcunha Chacha,
avançado de posição. Com Paiva Simões, Homem de Figueiredo, Henrique Costa,
Cosme Damião e Artur José Pereira, todos integrantes da Selecção de Lisboa que,
um anos antes, havia digressionado pelo Brasil. Viviam-se tempos de futebol
casto. Insipiente.
Álvaro Gaspar actuou três
anos com o emblema do Benfica. Outras tantas vezes venceu o Campeonato de
Lisboa. Reputavam-no executante fantástico, já tecnicamente perfumado, com
sentido de organização, temível a finalizar. Havia ingressado nas fileiras do
clube pouco depois da fundação. Assistiu apenas ao primeiro desafio oficial, a
4 de Novembro de 1906, frente ao Carcavelos, a melhor equipa do ano, com
derrota por 3-1. Ele que se iniciou no patamar inferior, na terceira categoria,
sempre em espiral, até à turma de honra.
Em Março de 1913, relatos na
época mencionam que aos ombros havia sido levado, até aos balneários pelos
componentes de uma equipa inglesa, o New Cruzaders, maravilhados com os seus
atributos de índole técnica. Numa espécie de paleolítico superior, naqueles
pré-história do futebol aborígene, o Chacha parecia de outro estádio de desenvolvimento.
A melhor exibição, pelo menos a mais
produtiva, realizou-a em Dezembro de 1913. O Benfica aturdiu (9-0) o Cruz
Quebrada, com cinco golos de Álvaro Gaspar. Sempre na presença do tutor Cosme
Damião, lenda benfiquista, fundador, jogador, técnico, dirigente. Aquele que “fez do Benfica o maior clube
português”, segundo o mestre Cândido de Oliveira.
Álvaro Gaspar contribuiu,
embrionariamente, para o estatuto singular e não menos invejável do clube. Com
aura popular. Ainda na casa dos 20 anos, adoeceu e deixou de jogar. Mesmo
desaconselhado pelos médicos, não perdia pitada dos jogos da sua equipa de
afeição. Minado pelo infortúnio, morreu a 3 de Setembro de 1915, foi sepultado
no cemitério da Ajuda.
O FUNERAL DE ÁLVARO GASPAR
Em agonia, antes de morrer,
utiliza as últimas palavras para fazer dois pedidos: Abracem o Cosme Damião,
capitão e companheiro de lutas passadas e que o caixão seja coberto com a
bandeira do Benfica, do Clube que tantas vezes defendi!
Chegados até aqui, a este
marco triste, sempre o último para qualquer ser humano, o funeral distingue-nos
dos restantes espécies animais. Para estas o último "marco" é a morte
(penúltima para os humanos).
Vai fazer 101 anos, no dia 4 de
Setembro, estava a ser velado para perfazer 24 horas de morto (21 horas de dia
3 às 21 horas de dia 4) e poder ser sepultado, pelas 10:30 horas da manhã de 5
de Setembro de 1915.
Sua ultima morada Rua dos Jerónimos nº. 24 r/c
Nada mais há acrescentar que
publicar as notícias da Imprensa (que ilustram bem a popularidade do jogador em
1915). Depois o relato do funeral, passam amanhã 99 anos. E finalmente um texto
- mais um - brilhante de António Ribeiro dos Reis publicado no jornal "O
Sport de Lisboa" n.º 107 em 11 de Setembro de 1915. Uma semana depois do
falecimento e enterro.
Em 4 de Setembro de 1915
A Capital
O Século
Em 5 de Setembro de 1915 Diário de Notícias
O Século
Ilustração Portuguesa n.º
500
DESPEDIDA
A MAIS BELA HOMENAGEM QUE SE PODE TER
António Ribeiro dos Reis
O Sport de Lisboa n.º 107;
11 de Setembro de 1915
QUE DURMA EM PAZ!
Álvaro Gaspar a primeira
Glória a deixar prostrados os Benfiquistas. Pela Idade. Pela Desgraça. Pelo
Valor. Pelo Futebol. Mas acima de tudo pelo Benfiquismo! Poderá haver muitos
que sejam tão Benfiquistas quanto foi o "Chacha". Nunca haverá
ninguém que o seja mais do que ele foi! E é! Porque passados cem anos ainda
falamos nele!
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