ÉPOCA 1975/76
PLANTEL
Moinhos, Toni, Nené, Shéu, Jordão, Barros, António Bastos Lopes, Artur Correia, Vitor Martins, Messias, Eurico, Vitor Batista, José Henrique, Diamantino, Manuel Bento, Nelinho, Malta Silva, Eduardo Luís, Chalana, Romeu, Cavungi, Fonseca, José Domingos
TREINADOR
MARIO WILSON
O Vitoria SC contabiliza, ao
longo da sua história, mais de sessenta participações no Campeonato Nacional da
1ª Divisão. Nesta competição, a principal do futebol português, o treinador com
mais jogos no comando da equipa vimaranense é, precisamente, Mário Wilson.
Dirigiu o Vitoria SC concretamente em 177 jogos do Campeonato Nacional da 1ª
Divisão e, depois de Alberto Augusto na década de 30/40, é o treinador com mais
anos a liderar a equipa principal vitoriana.
Mário Wilson é uma
personalidade marcante da história do futebol português. Dedicou mais de 50
anos da vida à modalidade, primeiro, na condição de praticante, representando o
Sporting CP e a Académica de Coimbra, e depois, na qualidade de treinador,
comandando várias equipas portuguesas e a Selecção Nacional.
No Vitoria SC, Mário Wilson,
esteve durante 6 épocas, divididas em dois períodos, sempre na década de 70.
Entrou na temporada de 1971/72 e saiu no final da época de 1974/75. Regressou
mais tarde, no início da temporada de 1977/78, para terminar definitivamente a
ligação ao clube vimaranense na época de 1978/79.
Durante a passagem de Mário
Wilson por Guimarães o Vitoria SC alcançou classificações dentro do primeiro
terço da tabela classificativa do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, repetindo
sucessivamente o 6º lugar. Contudo, naquele período, o clube nunca atingiu
resultados dignos de grande relevo, não conseguindo alcançar, nomeadamente, qualquer
apuramento para as competições internacionais de clubes.
Como se deixou escrito, a
ligação de Mário Wilson ao futebol português começou enquanto era futebolista.
Todavia, antes de ingressar no futebol português, Mário Wilson notabilizou-se
em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques (actual Maputo), a sua terra
natal, onde nasceu, no dia 17 de Outubro de 1929.
Mário Wilson começou a jogar
futebol na equipa “Os Fura Redes”, formação sem cariz oficial, com sede na sua
casa e dirigida pelos seus irmãos, mas também praticava com regularidade,
demonstrando imensa valia, outras modalidades como o basquetebol, atletismo e
voleibol.
Seria, porém, a jogar
futebol que Mário Wilson ficou famoso. Oficialmente, começou a jogar no
Desportivo de Lourenço Marques, passou efemeramente pelo Clube Indo – Português
e voltou a jogar pelo Desportivo de Lourenço Marques até rumar ao Sporting CP.
Mário Wilson jogou ainda
pela Selecção de Moçambique em algumas ocasiões, regressando, sempre que
possível, aquela colónia portuguesa para representar a sua terra.
Alem das representações pela
Selecção de Moçambique, Mário Wilson também jogou pela Selecção de Portugal. Em
1955 contabilizou duas internacionalizações pela Selecção Nacional “B” de
Portugal, alinhando pela equipa das quinas nos desafios realizados contra as
congéneres do Luxemburgo e do Sarre.
Com 19 anos de idade, o
jovem Mário Wilson, muito bem referenciado, ingressou na grande equipa do
Sporting CP em 1949, com um rótulo, antecipado pelos seus admiradores em
Moçambique, que seria o substituto de Peyroteo, famoso jogador leonino que
terminara a carreira.
Jogou no Sporting CP durante
as épocas de 1949/50 e 1950/51. Logo na primeira temporada foi o melhor
marcador da equipa do Sporting CP no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, com 23
golos apontados, e o segundo melhor da competição, logo atrás o benfiquista
Julinho que marcou 28 tentos.
Nesta primeira época de
Mário Wilson no Sporting CP, a equipa leonina quedou-se pelo 2º lugar no
Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Já na época seguinte, o Sporting CP, sob o
comando técnico do inglês Randolph Galloway, foi o campeão nacional, naquele
que seria o primeiro grande título da longa carreira de Mário Wilson.
No cômputo geral, Mário
Wilson alinhou em 36 jogos oficiais pela equipa do Sporting CP, apontado 37
golos. Atenta a sua juventude, estes números são naturalmente um bom registo
individual, sendo certo, porém, que se na primeira temporada Mário Wilson foi
um titular indiscutível, já na segunda época a sua utilização não era tão
regular, passando mesmo alguns períodos pela equipa de reservas.
Em 1951/52, Mário Wilson foi
estudar para a cidade de Coimbra, e numa transferência rodeada de alguma
polémica, acabou por ingressar na Académica de Coimbra, iniciando aí uma longa
história como futebolista do clube dos estudantes.
A passagem do Sporting CP
para a Académica de Coimbra conduziu também a uma alteração da posição ocupada
em campo por Mário Wilson. De avançado centro na equipa leonina, Wilson, na
Académica de Coimbra, passou a jogar em posições mais recuados no terreno de
jogo e por isso, dizem, o seu desempenho atingiu outra saliência.
O atleta Mário Wilson
impressionava essencialmente pela sua enorme compleição física. Como avançado
era muito forte e irrequieto, bom no jogo aéreo, dada a sua altura, mas pouco
dotado tecnicamente.
Como defesa - afinal o lugar
onde se notabilizou como jogador - Wilson revelava-se muito eficaz no desarme,
forte e impiedoso na marcação, soberano e calmo no comando das acções
defensivas da equipa conimbricense. Mário Wilson era de facto um excelente
defesa central.
Ao serviço da “Briosa”,
Mário Wilson realizou 250 jogos oficiais e marcou 15 golos durante uma longa
carreira como jogador, que se prolongou entre as temporadas de 1951/52 até
1962/63. Aí tornou-se conhecido como “O Velho Capitão” da Associação Académica
de Coimbra.
Durante período que
representou a Académica de Coimbra como jogador, a formação conimbricense não
conseguiu resultados de grande relevo, salientando-se, todavia, o facto de ter
jogado sempre na 1ª Divisão Nacional.
Encerrada a carreira de
futebolista, Mário Wilson abraçou a função de treinador de futebol. Assumiu o
comando técnico da equipa principal da Académica de Coimbra na temporada de
1964/65, sucedendo, naquele cargo, ao mestre José Maria Pedroto, personagem com
quem Mário Wilson manteve uma relação bastante conflituosa ao longo de toda a
carreira.
Com o seu engenho e arte vai
construindo as grandes equipas de futebol da Académica de Coimbra da década de
60. A equipa apresenta um tipo futebol muito elogiado, espectacular e cativante
para os espectadores, e os resultados desportivos vão aparecendo, passando a
Académica de Coimbra a surgir nos lugares cimeiros da tabela classificativa do
Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
Nos anais da história do
clube dos estudantes realça-se, efusivamente, a época de 1966/67, quando a
Académica de Coimbra, liderada por Mário Wilson, se classificou no 2º lugar do
Campeonato Nacional da 1ª Divisão, lutando, verdadeiramente, com SL Benfica, o
campeão, pela conquista do ceptro nacional.
Nessa mesma época, porque
meritório, regista-se também a presença da equipa da Académica de Coimbra na
final da Taça de Portugal. Todavia, também nesta prova, o troféu escapou à
equipa conimbricense, pois o Vitoria de Setúbal, o adversário da final da Taça
de Portugal de 1966/67, venceu por 3-2.
À 10ª jornada do Campeonato
Nacional da 1ª Divisão de 1968/69, Mário Wilson deixa o comando técnico da
equipa da Académica de Coimbra. Contudo, fica pouquíssimo tempo sem trabalhar,
já que à 14ª jornada da mesma competição assume o cargo de treinador principal
da equipa do CF Belenenses.
Vai permanecer como
treinador da equipa do Restelo até ao final da época de 1969/70, não
conseguindo, durante esse período, alcançar resultados desportivos de grande
relevo, pois as classificações obtidas pela equipa do CF Belenenses fixaram-se
a meio da tabela.
Ainda antes de assumir o
cargo de treinador do Vitoria SC, Mário Wilson treinou ainda a equipa do FC
Tirsense na ponta final da época de 1970/71. A modesta equipa nortenha lutava
desesperadamente pela manutenção na 1º Divisão Nacional, feito que viria a
concretizar já sob o comando técnico de Mário Wilson, que assumiu o comando da
equipa à 22ª jornada, substituindo Orlando Ramin.
Em face dos resultados
alcançados na sua curta carreira de treinador, Mário Wilson era já então
considerado um técnico com créditos firmados, culto e sobejamente respeitado,
pelo seu passado como jogador e agora como técnico, no meio futebolístico
nacional. No seu trabalho evidenciava-se a capacidade de formar novas equipas e
valorizar jovens jogadores.
É com base nestes
pressupostos reconhecidos que o Presidente da Direcção do Vitoria SC, o Senhor
Antero Júnior, escolhe Mário Wilson para comandar a equipa vimaranense a partir
da temporada de 1971/72 para liderar o projecto de renovação.
Depois dos enormes
sobressaltos vividos na temporada de 1970/71, o Vitoria SC procedeu no defeso
da época de 1971/72 a uma profunda revolução no quadro de jogadores do seu
plantel principal. A famosa equipa vitoriana da década de 60 tinha chegado ao
limite da sua capacidade, fundamentalmente, devido à veterania de alguns dos
seus principais elementos.
O rejuvenescimento do
plantel era, portanto, uma medida urgente e nessa sentido foram contratados
vários jogadores, alguns deles bem importantes para o futuro imediato do clube
vimaranense.
Na equipa do Vitoria SC,
Mário Wilson implantou um estilo de jogo bem diferente daquele que
anteriormente reinava no clube. Estabeleceu um esquema táctico bem mais
ofensivo, fazendo a equipa jogar em toda a largura do terreno, em passe curto e
apoiado, e com constantes incorporações atacantes dos defesas laterais, criando
os necessários desequilíbrios ofensivos tão em voga no futebol moderno.
Nesta primeira passagem pelo
Vitoria SC, Mário Wilson teve ainda o mérito de lançar e potenciar na equipa
principal alguns dos jovens valores criados no clube, como aconteceu nos casos
bem sucedidos de Abreu, Ibraim ou Romeu.
A estreia oficial de Mário
Wilson como treinador do Vitoria SC ocorreu na partida da 1ª jornada do
Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1971/72, num encontro realizado no dia 12
de Setembro de 1971 no Estádio Municipal de Guimarães, frente ao FC
Barreirense. Nesse encontro a turma vimaranense venceu por 2-0, com golo da
autoria do avançado Tito.
O objectivo do clube para a
nova temporada de 1971/72 visava, essencialmente, efectuar uma época tranquila
e lançar as bases para um futuro melhor, portanto, sem grandes aspirações, é
certo, mas também sem as preocupações do ano anterior. O Vitoria SC concretizou
com mérito o objectivo traçado, com um desempenho satisfatório, atingindo um 6º
lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, classificação bem acima do
esperado.
A preparação da temporada
seguinte de 1972/73 iniciou-se com a renovação de contrato com o treinador
Mário Wilson que dessa forma mantinha à frente do comando técnico do Vitoria
SC. Já quanto ao plantel da equipa principal não houve grandes inovações,
transitando para a nova época praticamente todos os jogadores continuando assim
o processo iniciado na temporada anterior.
O Vitoria SC, no Campeonato
Nacional da 1ª Divisão da época de 1972/73, voltou a realizar uma prova bem
satisfatória, repetindo a classificação alcançada na época anterior, ou seja,
um 6º lugar.
Foi novamente bastante
pacifico o defeso do Vitoria SC na preparação da temporada de 1973/74. O
treinador manteve-se o mesmo – Mário Wilson – e na composição do plantel
verificaram-se pequenas mexidas.
O desempenho apresentado
pelo Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1973/74
manteve-se idêntico ao apresentado nas épocas anteriores e, uma vez mais,
repetiu a 6ª posição na classificação final da competição.
Seguiu-se então aquela que
seria a ultima época da primeira passagem de Mário Wilson pelo cargo de
treinador principal do Vitoria SC. A temporada de 1974/75 é indiscutivelmente a
melhor de toda a década de 70.
O Vitoria SC contrata um
conjunto de grandes jogadores para a nova temporada de 1974/75. Rui Rodrigues,
o avançado brasileiro Jeremias, Ramalho, Pedrinho, Almiro e Pedroto são
elementos fundamentais, que vão reforçar verdadeiramente uma equipa já dotada
de excelentes jogadores.
A Direcção do Vitoria SC,
nesta altura presidida por Rodrigues Guimarães, aposta forte na equipa
principal apontado como claro objectivo o acesso às competições internacionais
de clubes.
A equipa vimaranense realiza
uma excelente temporada, disputando taco a taco o 4º lugar do Campeonato Nacional
da 1ª Divisão da época de 1974/75 com o Boavista FC. Curiosamente o ultimo jogo
do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão daquela temporada disputa-se
no Estádio Municipal de Guimarães precisamente frente ao Boavista FC.
O jogo era decisivo para
atribuição do 4º lugar. O Vitoria SC partia com uma vantagem de 2 pontos sobre
os boavisteiros e um empate era um resultado suficiente para a turma vitoriana
garantir o apuramento europeu que há tanto tempo almejava.
Acontece, que essa tarde de
futebol teve um inesperado protagonista que influenciou decisivamente o resultado
final que acabou por ser favorável aos boavisteiros que venceram por 1-2.
António Garrido, o juiz do encontro, teve uma arbitragem miserável e
controversa prejudicando gravemente o Vitoria SC.
Diversos foram os lances em
que deliberadamente - assim pareceu aos adeptos do vitorianos na altura –
decidiu mal e sempre contra o Vitoria SC. Para a história fica um célebre golo
anulado aos vimaranenses por António Garrido que, inacreditavelmente, entendeu
que a bola não tinha ultrapassado a linha de golo.
O certo é que o Boavista FC
venceu o encontro e alcançou o 4º lugar na geral garantindo dessa forma o
acesso às provas internacionais de clubes ficando o Vitoria SC com a 5ª
posição.
No final da época de
1974/75, o SL Benfica, apesar de se sagrar campeão nacional, não renovou o
contrato com o seu treinador húngaro Milorad Pavic. Para a nova temporada de
1975/76 decidiu convidar o técnico Mário Wilson que entretanto até já tinha
apalavrado continuar no Vitoria SC.
Como treinador do SL Benfica
na época de 1975/76, Mário Wilson conquistou o Campeonato Nacional da 1ª
Divisão, depois de uma luta intensa com o Boavista FC. Com esta conquista,
Mário Wilson tornou-se no primeiro treinador português a sagrar-se campeão
nacional pelo SL Benfica.
Nesta altura, tornou-se
bastante famosa uma das frases mais citadas no futebol português ao longo dos
anos numa alusão à grandiosidade do SL Benfica. O Velho Capitão Mário Wilson
referiu que “qualquer treinador que vá para o SL Benfica, arrisca-se sempre a
ser campeão”.
Como treinador do SL
Benfica, a estreia oficial aconteceu numa partida disputada no Estádio da Luz,
a contar para a 1ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, frente ao
Boavista FC, que terminaria igualada a 0-0.
Apesar o titulo conquistado,
Mário Wilson não permaneceu no SL Benfica e foi substituído pelo técnico inglês
John Mortimore na época de 1976/77. Prosseguiu então a sua carreira ingressando
na equipa do Boavista FC, sucedendo, mais uma vez a José Maria Pedroto que,
entretanto, regressou ao seu FC Porto.
Na temporada de 1976/77
conseguiu manter o Boavista FC no topo do futebol português, apesar da saída de
alguns dos melhores jogadores axadrezados, acabando, mesmo assim, por
conquistar um excelente 4º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
O Boavista FC tentou manter
a todo o custo o técnico Mário Wilson no comando da equipa, todavia, surgiu
novamente no horizonte do Velho Capitão o convite para regressar à cidade de
Guimarães para treinar o Vitoria SC.
Convidado pelo Presidente da
Direcção do Vitoria SC, o Senhor Gil Mesquita, Mário Wilson assumiu o cargo de
treinador da equipa vimaranense para a nova temporada de 1977/78.
Nesta época o Vitoria SC o
realiza um arranque de temporada verdadeiramente notável, de tal forma que à 5ª
jornada, após derrotar o SC Braga em Guimarães por 2-1, assume a condição de
líder do Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
A estreia oficial de Mário
Wilson no comando técnico da equipa do Vitoria SC nesta época do regresso a
Guimarães, aconteceu no dia 4 de Setembro de 1977, com uma vitória, em casa,
sobre o SC Espinho por 2-0.
Os bons resultados foram
mantendo-se até ao final da 1ª volta da principal competição portuguesa. Já na
segunda metade, o Vitoria SC venceu apenas dois encontros, baixando
consideravelmente o seu desempenho, acumulando uma série de maus resultados,
que o levaram, novamente, a classificar-se na 6ª posição no final do Campeonato
Nacional da 1ª Divisão de 1977/78.
Na temporada seguinte de
1978/79, Mário Wilson foi convidado pela Direcção do Vitoria SC para assumir a
condição de coordenador e responsável máximo pelo futebol do clube, tornando a
sua função bem mais abrangente do que simplesmente comandar tecnicamente a
equipa principal. O objectivo do clube seria atingir outros patamares,
nomeadamente, melhorando os resultados desportivos e apurar-se para as
competições internacionais de clubes.
Mário Wilson, cativado,
aceitou o repto e integrou-se no projecto do clube. Liderou, desde logo, a
escolha dos jogadores que iriam fazer parte do plantel do Vitoria SC. Anuiu à
dispensa de jogadores carismáticos como Tito e Osvaldinho, e com agrado recebeu
as aquisições de Jeremias, que regressava ao Vitoria SC depois de jogar em
Espanha, o defesa Manaca e o avançado Mundinho, jogador observado pessoalmente
por Mário Wilson no Brasil.
A época de 1978/79 foi
todavia recheada de inúmeras circunstancias negativas que prejudicaram a
prestação do clube no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Vários acontecimentos
geraram um profundo e insanável conflito entre a Direcção do Vitoria SC e o
treinador Mário Wilson. O Velho Capitão nem chegou a terminar a temporada de
1978/79, pois acabou demitido do cargo de treinador do Vitoria SC.
Terminou assim da pior
maneira a relação desportiva que Mário Wilson manteve ao longo de muitos anos
com o Vitoria SC. O técnico saiu irremediavelmente incompatibilizado com os
dirigentes vimaranenses e com a sua imagem profundamente abalada no seio da
massa associativa vitoriana que nutria especial simpatia pelo treinador.
Os problemas começaram a
surgir logo na pré-temporada. Mário Wilson exigiu deslocar-se ao Brasil para
observar potenciais reforços para o clube. A Direcção, convencida pelo técnico,
autorizou e custeou a caríssima viagem do treinador ao Brasil.
Mário Wilson esteve durante
um mês no Brasil a observar jogadores e o resultado dessa prospecção foi simplesmente
a contratação do avançado Mundinho. Pelo meio, alem o avultado custo da viagem
o clube ainda acabou burlado em 80.000$00 por um tal de Janos Traitai,
empresário que se relacionou com Mário Wilson.
Mais tarde surgiu o convite
da Federação Portuguesa de Futebol a Mário Wilson para assumir o cargo de
seleccionador nacional. Os dirigentes do Vitoria SC não apreciaram a ideia, mas
o técnico garantiu que a preparação e a liderança da equipa vitoriana não seria
de forma alguma prejudicada com a sua ida para a Selecção Nacional.
Compreensivos perante a
inegável relevância do cargo para Mário Wilson, o Vitoria SC autorizou que o
seu treinador aceitasse o convite e simultaneamente partilhasse o comando
técnico da equipa vitoriana com a função de seleccionador nacional.
A verdade é que as longas
ausências do treinador Mário Wilson de Guimarães, provocadas pelos trabalhos da
Selecção Nacional de Portugal, prejudicaram claramente o rendimento da equipa
do Vitoria SC.
Alem disso, Mário Wilson
revelou-se incapaz de acumular os dois cargos. Em vários momentos e situações
percebeu-se que o treinador não dava o melhor acompanhamento à equipa do
Vitoria SC.
O departamento de futebol
estava completamente desorganizado. Quando ia para os trabalhos da Selecção
Nacional, Mário Wilson deixava as instruções aos seus adjuntos, relativamente
aos treinos a ministrar aos jogadores do Vitoria SC, escritos em guardanapos de
papel.
Em determinado jogo no
Barreiro, frente ao FC Barreirense, a “distracção” de Mário Wilson e o
alheamento em relação ao Vitoria SC foi ao ponto de colocar em aquecimento um
jogador suplente quando já tinha realizado as duas substituições permitidas.
A equipa e os seus jogadores
revelavam-se indisciplinados em vários jogos, a organização táctica da equipa
era profundamente criticada pelos analistas desportivos e a condição física era
lamentável. Celebre ficou uma frase escrita pelo jornalista Alfredo Farinha no
jornal A Bola sobre a condição física patenteada pelos jogadores vimaranenses
num encontro frente ao CF Belenenses, dizendo que “os jogadores do Vitoria SC
não estão quadrados, porque estão redondos…”. O Vitoria SC, sobretudo no último
terço do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1978/79, era a imagem de uma
equipa desmazelada.
Alem destas questões, houve
ainda graves problemas com os jogadores, nomeadamente, ao nível dos prémios de
jogo exigidos por uma digressão do Vitoria SC a França na Páscoa de 1979 ou
pela eliminatória da Taça de Portugal frente aos Unidos da Pontinha. Mário
Wilson, em todas as situações, colocou-se sempre ao lado dos jogadores contra a
Direcção do clube, que se viu obrigada a ceder às exigências.
Seria essa a razão apontada
por Mário Wilson para o insucesso da equipa. Em várias entrevistas, o Velho
Capitão justificou os maus resultados com a quebra do bloco e o espírito de
coesão entre jogadores, técnicos e dirigentes.
Outro importante facto
prendeu-se com a proposta renovação do contrato de Mário Wilson com o Vitoria
SC. Em determinada altura da época o Vitoria SC propôs a renovação a Mário
Wilson, o qual, por sua vez, não aceitou, argumentando que tinha um convite do
SL Benfica que ponderava aceitar.
O Vitoria SC iniciou então
contactos com outros técnicos tendo apalavrado um contrato com Mário Imbelloni
para a época de 1979/80. Mais tarde, Mário Wilson, em face da indecisão do SL
Benfica, manifestou vontade em continuar no Vitoria SC, contudo, aí, foram os
dirigentes vitorianos a transmitir-lhe que já não estavam interessados no seu
concurso e que até já tinha um novo treinador contratado. A partir desse
momento, as relações de Mário Wilson com os dirigentes do Vitoria SC azedaram
irreversivelmente.
O Vitoria SC não começou da
melhor maneira o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1978/79. As
exibições da equipa eram pobres e os resultados bastante aquém das aspirações
da equipa, que até à 8ª jornada não tinha marcado qualquer golo fora de casa.
Terminou a 1ª volta da
competição na 7ª posição, com desempenhos medíocres, fazendo crescer na massa
associativa a contestação ao treinador. As críticas dos associados aumentavam
de tom sobretudo pelas constantes ausências do treinador nos trabalhos da
Selecção Nacional.
Na 2ª volta, sobretudo pelos
desempenhos individuais de alguns jogadores e não tanto pela prestação
colectiva, os resultados do Vitoria SC foram melhorando até que alcança a
possibilidade de disputar o jogo decisivo para atribuição do 4º lugar da
classificação, em Guimarães, frente ao SC Braga.
Alem de ser mais um emocionante
derby contra o eterno rival, este jogo, disputado no dia 27 de Maio de 1979 no
Estádio Municipal de Guimarães, decidia praticamente o apuramento de um dos
clubes para as provas internacionais.
A entrada para este jogo da
27ª jornada, o Vitoria SC levava um ponto de atraso em relação ao SC Braga. Uma
vitória colocaria a equipa vimaranense à frente e com francas expectativas de
atingir o desiderato gizado no início da época.
Para grande desilusão dos
adeptos vitorianos, o jogo foi um completo descalabro para a equipa do Vitoria
SC, que acabou por ser derrotada por 0-1 e assim perder as hipóteses de chegar
ao 4º lugar, pois o SC Braga distanciava-se definitivamente.
A equipa do Vitoria SC
surgiu, neste jogo decisivo, bastante amorfa e com uma condição física
verdadeiramente confrangedora, perante um SC Braga pujante e bem preparado. A
equipa arsenalista foi claramente melhor que o Vitoria SC e venceu com toda a
justiça o encontro.
Perante a grande desilusão e
a consumação do descalabro a Direcção do Vitoria SC demitiu o treinador Mário
Wilson. A partir de então deu-se início a uma intensa guerra de palavras e
acusações mútuas entre o treinador e os altos dirigentes vimaranenses.
Enquanto Mário Wilson
assinava contrato com o SL Benfica para a época de 1979/80, o Vitoria SC
realizava, a pedido da Direcção presidida por Gil Mesquita, uma concorrida
assembleia-geral, na Escola Preparatória João de Meira, onde foi dissecado todo
o processo que conduziu à demissão de Mário Wilson.
Nessa celebre
assembleia-geral do Vitoria SC do dia 7 de Junho de 1979, os associados
vitorianos decidiram por evidente maioria proibir o regresso do treinador Mário
Wilson ao clube, decisão que até aos dias de hoje se mantêm em vigor.
Invoquemos ainda a passagem
de Mário Wilson pelo cargo de seleccionador nacional. Era um período em que
Portugal jogava a qualificação para o Campeonato da Europa de 1980. A estreia
de Mário Wilson como treinador da Selecção Nacional aconteceu no dia 20 de
Setembro de 1978, numa partida em que a turma lusa venceu o E. U. A. por 1-0.
No arranque da fase de
apuramento, Portugal chegou a criar a ilusão de que iria conseguir apurar-se
para a fase final do Campeonato da Europa. À volta do seleccionado português
foi nascendo uma crescente onda de euforia, sobretudo, depois das vitórias
alcançadas sobre a Áustria, em Viena, e a Escócia, em Lisboa, jogos onde
Portugal realizou excelentes exibições.
Todavia, já na fase decisiva
do apuramento, uma derrota no Estádio da Luz frente à Áustria e na Escócia, por
goleada de 4-1, colocou definitivamente a Selecção de Portugal fora do
apuramento.
No período em que Mário
Wilson é seleccionador nacional português e também treinador do SL Benfica,
agudiza-se ainda mais a já depauperada relação com José Maria Pedroto, o
treinador do FC Porto, com quem este manteve uma guerra de palavras que se
tornou famosa no futebol português durante a década de 70 inícios dos anos 80.
Como exemplo do clima que se
vivia e as repercussões nas pessoas destaca-se recorrentemente um episódio
ocorrido na época de 1979/80. Naquele período, Mário Wilson era o seleccionador
nacional que convocou vários jogadores do FC Porto para representar Portugal
num jogo particular contra a Espanha que seria disputado na cidade de Vigo.
Esse jogo seria realizado entre os dois jogos do FC Porto para a Taça dos
Campeões Europeus frente ao AC Milan o que, evidentemente, prejudicava a
preparação da equipa portista.
Por isso, José Maria Pedroto
não se conteve, chamando “palhaço” a Mário Wilson. Os jogadores do FC Porto que
iriam juntar-se ao grupo da Selecção Nacional, que vinha de Lisboa, na Estação
de Comboios da Campanhã no Porto. Aí, em vez dos jogadores do FC Porto estava
uma verdadeira multidão em fúria que apedrejou o comboio que transportava a
equipa de Portugal.
O FC Porto acabou por
eliminar o AC Milan. José Maria Pedroto foi multado pelas instâncias
federativas em 500 escudos. O popular “Zé do Boné” não emendou, em jeito de
reacção acrescentou: “Quando disse que Mário Wilson, como treinador, era um
palhaço, não tive intenção de ofender os palhaços.”
Neste conflito entrou também
o actual Presidente do FC Porto, Pinto da Costa, que defendendo a sua “dama”
não se escusou a proferir palavras pouco abonatórias para Mário Wilson.
Como treinador do SL Benfica
da temporada de 1979/80, Mário Wilson vence a Taça de Portugal, vencendo na
final o FC Porto, depois de eliminar nos oitavos de final o rival Sporting CP.
No Campeonato Nacional da 1ª
Divisão, a equipa do SL Benfica não foi alem do 3º lugar na classificação
final, um evidente insucesso, que a juntar à eliminação prematura da Taça Uefa,
às mãos do modesto Aris de Salonica da Grécia, manchou esta passagem de Mário
Wilson pelo Estádio da Luz.
Esta época de 1979/80 fica,
todavia, marcada na história do clube encarnado essencialmente por se aquela em
que pela primeira vez o SL Benfica teve jogadores estrangeiros. Coube ao
brasileiro ao avançado brasileiro Jorge Gomes, contratado ao Boavista FC, o
privilégio de ser o primeiro jogador estrangeiro a representar o SL Benfica.
A partir de então a carreira
de Mário Wilson entrou em clara curva descendente. Na época de 1980/81, segue o
apelo do coração e assume o comanda da equipa da Académica de Coimbra, à 9ª
jornada, substituindo Francisco Andrade. A época não corre de feição às hostes
conimbricenses e a Académica de Coimbra desce à 2ª Divisão Nacional.
Permanece como treinador da
Académica e Coimbra nas temporadas seguintes de 1981/82 e 1982/83, tentando sem
sucesso recolocar o clube na 1ª Divisão Nacional. Em ambas as temporadas a
formação academista classifica-se na 2ª posição da Zona Norte, e nas Liguilhas
disputadas não consegue subir.
Na temporada de 1983/84 vai
trabalhar no GD Estoril Praia, substituindo a meio do Campeonato Nacional da 1ª
Divisão o treinador António Medeiros, mas também sem grande sucesso ao nível de
resultados pois a equipa estorilista é relegada à 2ª Divisão Nacional.
Em 1984/85 assume o comando
do Boavista FC. No dia 9 de Março de 1985, aquando da 21ª jornada do Campeonato
Nacional da 1ª Divisão, depois de uma derrota caseira frente ao Vitoria de
Setúbal por 0-2, o presidente do Boavista FC, o Major Valentim Loureiro,
desanimado com a carreira do clube, demitiu Mário Wilson e convenceu João
Alves, jogador da equipa, a assumir o comando técnico até final da temporada.
Mário Wilson tem depois
passagens, como treinador, por clubes como o CD Cova da Piedade, Louletano DC,
SCUT Torreense, SC Olhanense, sempre na Zona Sul da 2ª Divisão. Na temporada d
1990/91 assumiu o cargo de técnico principal do RD Águeda na 2ª Divisão de
Honra, substituindo António Fidalgo à 18ª jornada, também se qualquer sucesso
desportivo.
Na sua carreira, depois de
um período de inactividade, segue-se uma experiência no estrangeiro, treinando
a equipa marroquina do FAR Rabat, até que, no seguimento de uma profunda
remodelação operada no departamento de futebol do SL Benfica se dá o regresso
de Mário Wilson ao Estádio da Luz para ocupar o cargo de secretario técnico.
Nesse regresso ao SL Benfica
teve grande peso Artur Jorge, o treinador dos encarnados naquela altura. Artur
Jorge havia sido pupilo de Mário Wilson nos tempos da Académica de Coimbra.
Quando a Direcção do SL
Benfica demitiu Artur Jorge, após um empate em casa frente ao Vitoria SC à 3ª
jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1995/96, escolheu o
experiente Mário Wilson para ficar com o lugar do treinador despedido.
O SL Benfica foi o 2º
classificado no nacional maior português, bem distanciado do FC Porto de Bobby
Robson, campeão nacional. Todavia, o SL Benfica e Mário Wilson venceram mais
uma Taça de Portugal, derrotando o Sporting CP por 3-1, numa trágica final disputada
no Estádio do Jamor, que ficou marcada pela morte de um adepto leonino,
fatalmente ferido por um very light lançado por um adepto benfiquista.
Na época de 1996/97 regressa
de novo ao comando da equipa do SL Benfica, por um jogo, para substituir, desta
feita, o brasileiro Paulo Autuori, entretanto demitido do cargo. Mário Wilson
era agora considerado o “bombeiro de serviço” para as crises benfiquistas, e
liderou a equipa apenas no jogo da 17ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª
Divisão de 1996/97, em que o SL Benfica perdeu, em casa, por 1-2, frente ao CF
Belenenses.
Pela ligação do FC Alverca
ao SL Benfica, a partir da temporada de 1997/98, Mário Wilson passa a trabalhar
na equipa ribatejana, ora como treinador, ora como coordenador técnico do
clube. O FC Alverca vai subir nesta época de 1997/98 à 1ª Divisão Nacional.
Entretanto, no SL Benfica, a
crise continua e na época de 1997/98 Mário Wilson regressa novamente ao comando
da equipa encarnada fazendo o período de transição entre a saída do treinador
Manuel José, à 4ª jornada, e a entrada de Graeme Souness na ronda 9ª.
Mário Wilson é o treinador
da estreia do FC Alverca na 1ª Divisão Nacional na temporada de 1998/99. Ficou
nesse cargo até à 24ª jornada altura em que foi substituído por José Romão,
técnico que acabou por garantir a manutenção do clube ribatejano na 1ª Divisão
Nacional, recuperando assim de um mau arranque do clube na prova.
O jogo entre o FC Alverca e
o SL Benfica da época de 1998/99, que ditou o despedimento de Mário Wilson do
cargo de treinador da equipa ribatejana, foi assim o ultimo jogo oficial da
carreira, com cerca de 50 anos, do Velho Capitão no futebol português.
Actualmente, Mário Wilson
esta aposentado do futebol. Ainda aparece em algumas iniciativas ligadas ao
futebol, mas já não esta inserido, desde há vários anos, em qualquer projecto
futebolístico profissional.
Autor: Alberto de Castro
Abreu
MELHOR MARCADOR
NÉNÉ - 34 GOLOS
RESULTADOS
CRÓNICA DA ÉPOCA
Mário Wilson guiou o Benfica
a mais uma vitória no Nacional da I Divisão, num campeonato disputado
taco-a-taco com o Boavista de José Maria Pedroto.
Pela segunda vez na década,
Pedroto «montava» uma equipa que batia Sporting e FC Porto e se tornava no
grande adversário do Benfica na luta pelo título. Era o começo da intensa
rivalidade entre entre Wilson e Pedroto, que atingiria o seu auge quando Pedroto
ficou ao leme do seu FC Porto.
Mas se anos antes, o Vitória
de Setúbal ficara distante da liderança, em 1975/76, o Boavista olhou o Benfica
nos olhos e lutou até ao fim, terminando apenas dois pontos atrás dos
lisboetas.
Na posição seguinte ficava o
Belenenses, já há uns anos afastado destas lides, fechando um pódio histórico,
constituído apenas por equipas que começavam pela letra B...
FC Porto e Sporting fechavam
o quinteto da frente, em mais uma época em que os dois grandes se viam
ultrapassados não só pelo rival Benfica, mas por clubes de menor dimensão.
VIDEOS
TCE - BENFICA 7 - FERNERBACH 0
CN - BENFICA 0 - SPORTING 0
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