GRANDES NOMES
BENTO
De pedreiro a rei. Assim foi
a vida do popular Manuel Galrinho Bento. Começou por aprendiz de uma arte que o
poderia remir à pobreza. Desenvolveu outra arte que boleia lhe deu para o
galarim dos famosos. Da primeira não consta que sublinhasse a diferença. Da
segunda, a de guarda-redes, nela imperou, com o estatuto de intocável, durante
mais de uma década.
Os espírito de sacrifício
estava-lhe na massa do sangue. Quando aos 15 anos começou nas lides, ao serviço
do Riachense, após longas e violentas jornas, mais de cinco quilómetros por dia
de bicicleta faria, até Riachos, onde participava nos treinos, que de breu
pareciam, tão tímida era a luz artificial. Passou para o Goleganense, um ano
depois, formada que estava a equipa júnior da terra onde nascera.
As acrobacias na defesa das
redes não causaram indiferença. O Torres Novas e o União de Tomar candidataram-se
aos seus préstimos. Só que o nome Bento havia já ultrapassado as fronteiras
regionais. De Lisboa, do Sporting, lançaram-lhe o repto. Durante três meses,
treinou-se intensamente. Um responsável leonino mandou-o ir à Golegã, proceder
à desvinculação. Possesso ficou. Essa não era maneira de tratar o clubezinho lá
da terra. Mala feita, viagem de camioneta, voltava o Manel para casa, com a
firme convicção de que no Sporting jamais jogaria, nem por salário superior ao
do britânico Gordon Banks.
Sem que se saiba muito bem
como, a noticia chegou à margem sul do Tejo. Por 15 contos apenas, corria o ano
de 66, compromisso assinou pelo Barreirense, baluarte de um inesgotável viveiro
de grandes promessas futebolísticas.
Em terra de guarda-redes,
guarda-redes é rei. Na esteira de Azevedo e de Carlos Gomes, logo Bento se
destacou. E seria memorável, para vingança consumar, a exibição que fez em
Alvalade. Estávamos em 68, quando o Barreirense derrotou um Sporting, cheio de
ganância do titulo conquistar. Estrondearam palmas na Luz, ganhava o Benfica
esse Campeonato. Um ano volvido, mercê do quarto posto, o Barreirense
habilitou-se à Taça UEFA, proclamando inegociável aquele guarda-redes de físico
atípico para a função, já muito exposto às investidas benfiquistas. Na festa de
homenagem a Mário Coluna, Bento teve o privilégio de substituir a Aranha Negra,
o eterno Lev Yashin, num misto mundial. Desvaneceu a Luz e as juras de amor
foram um ror delas. Em Agosto de 71, finalmente, preparava-se para discutir a
defesa das balizas com José Henrique. No Benfica, pois então.
Ao longo de 18 temporadas,
Manuel Galrinho Bento carimbou de qualidade a sua passagem. Com agilidade
felina, contumácia, praguejou adversários e sossegou companheiros. Chegou aos
16 títulos, distribuídos por oito Campeonatos, seis Taças e duas Supertaças.
Num determinado período, manteve as redes invioladas durante 1290 minutos
consecutivos. E marcou golos de penálti. Como aquele que garantiu a eliminação
do Torpedo de Moscovo, na gélida capital russa. Um outro falhou, certo dia,
ante o Sporting, na Luz, mas logo a seguir redimiu-se, retendo o remate de
Jordão, disparado da marca dos 11 metros.
Na Selecção Nacional, também
Bento não deixou de emprestar toda a sua galhardia. Ainda hoje está no top dos
mais utilizados de sempre. “Homem de borracha”, chamaram-lhe os jornalistas
britânicos, após um empate a zero, com a Escócia, em Glasgow. E no Europeu de
84, se Chalana justifica todas as mordomias, não dá para esquecer a competência
de Bento, negando, amiudadas vezes, o iminente golo da turma gaulesa.
Já com idade para ser avô,
Manuel Bento despediu-se. Mas para sempre ficará património do Sport Lisboa e
Benfica.
Épocas pelo Benfica: 20
(1972/1992)
Jogos: 611
Golos sofridos: 447
Títulos: 10 CN, 6 TP e 3 ST
Futebolista Português do
Ano: 1977
VIDEOS
VITÓRIAS E PATRIMÓNIO - BENTO (PARTE 1)
VITORIAS E PATRIMÓNIO - BENTO (PARTE 2)
VITORIAS E PATRIMÓNIO - BENTO (PARTE 3)
VITORIAS E PATRIMÓNIO - BENTO (PARTE 4)
MEMÓRIAS DE BENTO NO BENFICA
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