JOÃO CARVALHO
PARA QUANDO UMA OPORTUNIDADE?
Conta-se que o olheiro do
Manchester United na Irlanda do Norte enviou um dia um telegrama muito curto
para o treinador Matt Busbby.
«Acho que descobri um
génio», escreveu apenas Bob Bishop.
O génio do telegrama era
George Best, que por essa altura tinha 15 anos e jogava nos amadores de Gregagh
Boys, nos arredores de Belfast.
A partir daí, o jovem
irlandês viajou para Inglaterra, cumpriu um período de testes e assinou
contrato, dando início a uma história enorme e que, como as melhores obras,
começou com um pormenor delicioso: um telegrama também ele genial.
Esta só não é, aliás, a
minha história preferida de George Best, porque ele uma vez recordou o dia em
que, com 27 anos, emigrou para os Estados Unidos.
Curiosamente fê-lo com uma
frase admirável. Como era típico de George Best.
«Quando fui jogar para os
Los Angeles Aztecs arranjaram-me uma casa espectacular em frente ao mar. Só
tinha um problema: para chegar à praia tinha de passar por um bar. Nunca pus os
pés na areia.»
Mas voltando atrás, ao
telegrama de Bob Bishop, importa dizer que às vezes não é preciso muito: basta
um pormenor ou outro para perceber que se está perante algo especial.
É mais ou menos o que sinto
quando olho para João Carvalho.
O miúdo do Benfica B, que
acabou de completar 19 anos e ainda é por isso apenas um júnior, tem a
elegância dos craques. Basta ver a forma como joga de cabeça levantada, como se
a bola não precisasse de o fitar nos olhos para cumprir as ordens sem hesitar.
Jogar de cabeça levantada é
daqueles pormenores que não engana.
Mas há mais. Sempre de pé
direito, tem um toque aveludado, como se as botas estivessem almofadadas: a
bola chega rebelde e insurgente, mas serena num instante. João Carvalho pode
então levantar a cabeça para fazer o futebol fluir e a equipa jogar.
Ora transporta a bola, ora
joga de primeira, ora toca rápido. O miúdo não é um jogador de grandes
correrias, de fintas e mais fintas, de remates absurdos.
É todo o contrário: calmo e
tranquilo. Um líder silencioso que pega na bola e a trata com carinho. É enfim
um jogador raro: inteligente, perspicaz, habilidoso.
Quem o vê conduzir a bola de
cabeça levantada, descobrir linhas de passe e aparecer em zonas de remate, quem
o vê enfim fazer tudo isso com uma simplicidade desarmante, não pode deixar de
se lembrar de Rui Costa aos 19 anos.
É certo que comparações
destas são perigosas, mas caramba: João Carvalho não ajuda nada. Nem sequer no
gesto de puxar o cabelo suado para trás para o afastar dos olhos.
Por isso ao vê-lo no domingo
em Alcochete, no dérbi dos bês, deliciei-me.
É certo que não foi o melhor
em campo, mas também não precisou: aos 19 anos o talento não está nos grandes
feitos, está nas pequenas coisas que um dia embrulharão os grandes feitos. E
João Carvalho tem várias dessas pequenas coisas.
Posso estar enganado, mas
acho que o Benfica descobriu um génio.
VÊ OS VIDEOS
Sem comentários:
Enviar um comentário