domingo, 21 de agosto de 2016

GRANDES NOMES

ILIEV



ILIAN ILIEV: Benfica (1995 a 1997), Marítimo (1999 a 2002) e Salgueiros (2002/03)
 
Em 1982, Vanio Kostov aterrava em Portugal para representar o Sporting. Mais do que garantir um reforço, a equipa de Alvalade abria um mercado: a Bulgária. Apoiados na excelente geração do início dos anos 90, que garantiu o quarto lugar no Mundial de 94, os clubes portugueses investiram naquela frente e vários jogadores de qualidade surgiram no campeonato luso.
 
O FC Porto apostou em Emil Kostadinov. O Sporting teve Balakov e Iordanov. Já depois chegou ao Benfica Ilian Iliev. Estávamos em 1995 na pré-temporada que se seguiu a um ano de desilusão na Luz. Artur Jorge falhara o bicampeonato e as críticas tornavam-se mais fortes. A margem de erro era nula e provou-se com o despedimento pouco depois de a época arrancar. Outras histórias.



Interessa-nos Iliev, médio talentoso que despontara no Levski de Sófia. É na Bulgária que está também nos dias de hoje e é a partir daí que conversa com o Maisfutebol. Fosse a entrevista um mês antes e apanharíamos Iliev noutro país. Noutro continente. «Voltei há vinte dias de Angola, onde fui treinador do Interclube de Luanda», conta-nos Iliev.
 
Mas voltemos à Luz. «Vim à experiência. Treinei uma semana com a equipa do Benfica, o Artur Jorge gostou de mim e contrataram-me por três temporadas», relembra. Ficaria apenas duas. Com números até interessantes para quem chegou como perfeito desconhecido.

OS NÚMEROS DE ILIEV NO BENFICA:

 
1995/96: 24 jogos (14 a titular) e 1 golo (Leça, 9º jornada)
1996/97: 28 jogos (12 a titular) e 3 golos (Boavista, 9ª jornada; Sp. Espinho, 10º jornada; Farense, 11º jornada)
 
O Benfica era muito diferente do Levski. «Quando entrei no estádio da Luz percebi logo a grandeza do clube. Aliás, eu já sabia muito sobre o Benfica e sobre as suas conquistas, era um clube muito conhecido mas estar no local é outra coisa», sublinha.



Iliev passou por uma «adaptação difícil», sobretudo por causa da língua. Teve de estudar. «Mas só a falar. Nunca tive aulas de português. Ia aprendendo…Depois de quatro meses já falava mais ou menos português», refere. Característica que mantém até hoje.
 
Com Iliev chegou outro «emigrante de Leste» que se tornaria o seu pilar na Luz: Nica Panduru. «Andávamos sempre juntos. Era o meu melhor amigo e esta é uma amizade que dura até hoje», revela.
 
Um dado interessante quando os dois, recorde-se, pisavam terreno semelhante em campo. Luta saudável por um lugar. Iliev teve de habituar-se a ela. A equipa tinha ainda uma referência incontornável, Valdo, que ainda que a caminhar para o final de carreira, mantinha a classe de sempre. Não se adivinhava fácil a tarefa de Iliev. «Se fosse fácil não era para mim», brinca.
 
«Benfica era um clube um pouco conturbado»
 
Artur Jorge, o treinador que deu o aval à sua contratação, durou três jornadas na época 1995/96. «Era um treinador muito rigoroso e exigente com os jogadores. Mas é normal. Éramos jogadores do Benfica, tinha de ser assim», admite Iliev.
 
O arranque difícil, com dois empates caseiros (Salgueiros e V. Guimarães) e uma vitória pela margem mínima em Santo Tirso pelo meio abalaram de vez os já frágeis alicerces construídos pelo «Rei Artur». Iliev fora titular nos dois empates, ficara de fora com o Tirsense.
 
«Era um tempo um pouco conturbado no clube. Foi pena o arranque. Mas já sabia que quando assinei por um clube como o Benfica, teria sempre de jogar debaixo de muita pressão e expectativas», reconhece.



À terceira jornada, sai Artur Jorge entra Mário Wilson. Iliev só volta a jogar na sexta ronda, mas convence o novo técnico e parte para uma temporada regular. Nunca foi um ídolo do terceiro anel mas a qualidade era reconhecida.
 
«Em dois anos fiz mais de 40 jogos e marquei quatro golos. E, se não estou em erro, na altura só podiam jogar três estrangeiros. Acho que fiz um bom percurso no Benfica», avalia.

 Depois de Mário Wilson, Iliev foi treinado por Paulo Autuori na época seguinte, antes de entrar o treinador que lhe mudou o destino. «Manuel José dispensou-me. Aliás, nem foi só a mim. Dispensou-me a mim, ao Panduru e ao Valdo para contratar o Erwin Sanchez do Boavista. Saí do Benfica porque o treinador quis», lamenta.
 
E quando nada o fazia prever. «Três meses antes, quando ainda estava o Paulo Autuori, o diretor desportivo, que era o Toni, fez-me uma proposta para renovar o contrato. Tinha ainda mais um ano e ia prolongar, estava contente. Com a vinda do Manuel José foi tudo abaixo», reitera.
 
Iliev passou a treinar à parte por uns tempos, antes de encontrar novo clube. «Com certeza não foi a melhor opção para mim, mas não podia ficar parado. O Panduru esperou, ficou de fora por uns tempos e ainda voltou, quando o Manuel José saiu. Mas eu não queria parar», explica. Assinou, então, pelo Bursaspor, da Turquia, experiência curta. Ainda nesse ano de 1997 estaria de volta à Bulgária para jogar no Slavia de Sófia.
 
«Sinto-me orgulhoso por ter jogado na equipa de Eusébio»
 
Do Benfica ficaram as memórias. « O mais inesquecível foi o primeiro jogo que fiz no Estádio da Luz. Foi na apresentação em 1995, com o Milan. Estavam 90 mil nas bancadas. Jogar naquele estádio era fantástico», descreve.
 
«Estou orgulhoso do que consegui no Benfica. Mesmo numa fase difícil, fiz parte de uma equipa que foi várias vezes campeã, até campeã da Europa. Fiz parte da equipa em que jogou o Eusébio. Mas ao mesmo tempo fiquei triste por não ter conseguido, também eu, ser campeão. Só ganhámos uma Taça», recorda, referindo-se à final ganha ao Sporting (3-1) em 1996, famosa pelos piores motivos devido ao incidente do very-light. Iliev foi suplente utilizado nesse jogo, rendendo Kenedy já perto do fim.



Em Portugal deixou bons amigos. Não só no Benfica como no Marítimo, clube que representou entre 1999 e 2002, e no Salgueiros onde se despediu de Portugal. «Marinho, Mauro Airez, Kenedy, João Pinto, Marcelo, Jokanovic, Serginho do Salgueiros», enumera. Lista longa.
 
A experiência na Madeira, que arrancou três anos após deixar a Luz foi totalmente diferente. «Já era mais experiente, já sabia a língua. Foi tudo muito mais fácil. Foram três épocas maravilhosas da minha vida desportiva e pessoal», assegura.
 
Em três anos tornou-se indiscutível no Marítimo, onde chegou pela mão de Paulo Barbosa, depois de uma reunião com Carlos Pereira em Lisboa. Nas três épocas teve Nelo Vingada como treinador. Outro nome marcante na carreira. «Com todos os treinadores que tive aprendi muito. Com alguns para o bem, com outros para o mal», atira entre risos.
 
Antes, já tinha conseguido um «marco na carreira» ao representar a Bulgária no Mundial de França em 98. «Enorme experiência», diz. Desportivamente, a equipa que encantara nos EUA foi uma sombra. Iliev foi titular no nulo com o Paraguai e na derrota com a Nigéria (1-0) e suplente utilizado no descalabro frente a Espanha (6-1), para a despedida.

 

Ilian Iliev, no Mundial de França




A carreira de jogador terminou em 2005, no Cherno More da sua Bulgária natal. Tinha 36 anos. Dois anos mais tarde, no Beroe, iniciou uma carreira de treinador que também passou pelo seu Levski de sempre e desaguou em Angola, na experiência que terminou recentemente. Portugal? Quem sabe.
 
«Já fui várias vezes a Portugal para observar jogadores, quando era treinador do Levski. Gostava de visitar Portugal com a minha família, com calma. Os meus dois filhos nasceram aí. A minha filha em Lisboa, o meu filho na Madeira. Por causa disto, vou estar sempre ligado a Portugal», remata.

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