GRANDES NOMES
FUTRE
Um grito (permanente) de
revolta. Assim parecia Paulo Futre. Em campo, anti-sistema. Um desalinhado.
Tinha a intuição por código, por cartilha a magia. Incoercível. Desarrumava a
rigidez táctica, violava a proibição do risco, gozava os esquemas standardizados,
Paulo Futre vivia no futebol a liberdade. E emprestava-lhe sentido. Do pai
herdou o gosto pela bola. Com 11 anos apenas, em Alvalade, num torneio da
Direcção Geral dos Desportos, toques sensórios tiraram-no do anonimato.
Destacou-se nas equipas juvenis do Sporting, a sénior chegou, com Manuel
Fernandes e Rui Jordão. No dia 21 de Setembro de 1983, em pleno palco dos
leões, substituiu Jaime Pacheco, ao minuto 58, do Portugal-Finlândia,
transformando-se no mais jovem internacional de sempre do nosso universo.
Polémica transferência conduziu Futre ao FC Porto e ao reconhecimento cabal.
Campeão nacional e europeu se fez. Seguiu-se o Atlético de Madrid, na condição
de ídolo colchonero, somando duas taças do Rei ao palmarés, uma das quais
recebida das mãos de D. Juan Carlos, que o felicitou em português.
A 18 de Janeiro de 1993,
data de aniversário da revolta operária da Marinha Grande, a revolta também do
genial Paulo Futre. O clube espanhol, ao fim de quase seis ininterruptas
temporadas, embargava-lhe agora a alma. Ansioso por encontrar um novo patamar competitivo,
aceitou verbalmente o principio de acordo com o Sporting. Só que o Benfica, na
presidência de Jorge de Brito, atacou mais forte para garantir o concurso
daquele que era o melhor jogador português da época. A 25 de Janeiro, Paulo
Futre ingressava no maior clube nacional. Era dia de anos do rei Eusébio. Dia
de festa no santuário vermelho.
“Nunca perdi com a camisola
do Benfica”, recorda. Foram cinco meses, 13 jogos e cinco golos, num curto
registo, com destaque para a vitória frente ao arqui-rival Sporting, na Luz,
com um tento único da sua autoria. Mas o vendaval Futre sacudiu como nunca os
adeptos benfiquistas naquela mágica exibição na final da Taça de Portugal
(5-2), perante o Boavista. No Jamor, o esquerdino esteve perfeito. Irisou o
jogo. Era fúria e talento. Era sensualidade. “Eu show Futre” virou o mais
conseguido titulo daquela récita rubra.
O destino não quis que o
atleta continuasse adscrito aos quadros do clube. Foi uma das gravosas
consequências da crise financeira do Verão de 93. O quinteto de luxo
desfazia-se. Só na Selecção Nacional seria possível rever Vítor Paneira, Paulo
Sousa, Rui Costa, João Vieira Pinto e Paulo Futre. Transferiu-se para Marselha.
Seguiu-se o AC Milan e o titulo de campeão de Itália. Outros emblemas ainda, já
no lusco-fusco da carreira. Num século de vida, terá sido um dos melhores
jogadores do Benfica, ainda que, concomitantemente, dos que menos vezes
actuaram. À história encarnada ficaram a faltar mais estórias de Futre. É que
dele, tal como ao chorar o toureiro, bem poderia dizer Frederico Garcia Lorca:
“tardará mucho tiempo en náscer, si es que nasce”.
GIF'S
A IDA PARA O BENFICA
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