GRANDES NOMES
ARTUR JORGE
"Vértice de Água” escreveu.
Vértice da controvérsia foi. Não como jogador, exímio da finalização, mas como
técnico, daqueles que chegam com aura sebastiânica e se despedem sem glória.
Incontornável é e será Artur Jorge. Filho adoptivo da família benfiquista.
Nasceu em Fevereiros de
1946, na Clínica da Lapa, no Porto. Poucos meses antes de ter sido testado com
êxito um dispositivo que iria mudar as nossas vidas, o transístor, anos mais
tarde responsável também pela projecção de um dos mais fieis discípulos da
doutrina do golo. Cedo nele se revelou insaciável o apetite pelo jogo. Que o
pai, empregado comercial, até viria a estimular. Comprou-lhe mesmo uma bola de
borracha, obrigando-o a exercitar o pé esquerdo, pois dextro apenas não poderia
ser.
Vanguardista, Artur Jorge
fundou o Centro Académico Futebol Clube, resolvendo o bicudo problema dos
equipamentos com o socorro da Mocidade Portuguesa. Para trás ficavam as
disciplinas de vólei e do basquetebol. Depois do Torneio Popular Juvenil do
Porto, melhor jogador foi, perfilhou as insígnias do Académico, popular
agremiação da Carvalhosa. Num ápice, às Antas chegou, pela mão de José Maria
Pedroto. Foi campeão nacional júnior e, na Holanda, ajudou ao terceiro lugar da
selecção no Torneio Internacional da UEFA.
À equipa de honra do FC
Porto chegou, já com Otto Glória. Havia nele proficiência, não fosse o anátema
das lesões e outro galo cantaria. Estudava à noite, com explicadores pagos pela
conta-corrente azul e branca, ele que não relaxava no propósito de se
licenciar. Com o ingresso de Manuel António nas Antas, Artur Jorge
transferiu-se para a Lusa Atenas, fazia-se jogador da Académica, que “mais do
que um clube é uma causa”, haveria de escrever José Afonso.
Com livros de Descartes,
Nietzsche, Kant e Sartre, debaixo do braço, outros vultos começou a estudar,
aqueles que ao domingo atenuavam a perversidade do regime, dando alegria ao
provo. Foi no que se tornou também. Marcou golos, muitos golos. Mais do que
ele, por essa altura, só no Benfica Eusébio e Torres. Deixou a Académica em
segundo lugar no Campeonato, palmo a palmo disputado, em 66/67, com o gigante
da Luz. No auge da crise académica de 69, sopravam os ventos do Maio francês,
Artur Jorge foi impedido de participar na final da Taça, com o argumento pateta
de que primeiro estava o serviço
militar. Nesse jogo, que só politicamente preparou, por ironia o poder
era…..vermelho. Ganhou o Benfica (2-1), com camadas de estudantes nas bancadas
do Jamor, destemidamente exibindo cartazes contra a guerra colonial e pelas
liberdades cívicas e democráticas.
Artur Jorge assinou de
vermelho no inicio da temporada seguinte, após ter estabelecido um acordo
informal com o Sporting. Perdeu dinheiro, mas jogar ao lado de Eusébio
estimulava-lhe a alma. No primeiro ano, sentiu dificuldades para se afirmar no
ninho da águia. Já históricas foram as duas temporadas seguintes (70/71 e
71/72), as da equipa-maravilha, conquistando outras tantas Bolas de Prata,
troféus atribuídos por “A Bola”, ao melhor artilheiro do campeonato. Tinha um
jogo inteligente, de recorte elevado, talvez percursor do “pontapé de moinho”,
feliz classificativo para aquele seu gesto mais característico. Não raras
vezes, escapava ao senso comum e aparecia numa nesga a farejar o golo. Era
glamoroso.
No final de 72, integrou a
Selecção Nacional, que embaixada benfiquista mas parecia, na Minicopa, por
terras brasileiras disputada. Conquistada a titularidade, protagonizou grande
campanha, ao serviço de um colectivo que só morreu, mas de pé, no desafio final,
perante o país organizador. “O Eusébio vai recuperar; ele não é um homem com os
outros, por isso…..”. Por isso jogou,
frente ao Brasil, ao lado do Pantera Negra, inferiorizado devido a uma lesão.
Por isso também, se calhar não ganhou Artur Jorge importante troféu.
Atravessou o 25 de Abril no
Benfica. Degenerava um tanto, futebolisticamente, porque as lesões o
apoquentavam. Só a um dos joelhos foi operado cinco vezes. Um calvário que o
subalternizou até à despedida da Luz. Ainda jogou no Belenenses, com o
revolucionário estatuto de trabalhador-futebolista. Durante o dia, sentava-se
na secretária da Direcção-Geral dos Desportos; à noite, exercitava-se no
Restelo. Eram os tempos das lutas sindicais. Presidente do órgão representativo
dos jogadores seria. Ouros golos marcou, em defesa da classe, da sua honradez e
dignidade.
Épocas no Benfica: 6 (69/75)
Jogos: 130
Golos: 103
Títulos: 4 CN e 2 TP
3 golos de Artur Jorge na vitória de 5 a 1 sobre o Sporting
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