GRANDES NOMES
TONY
O que o Benfica deve a
António José Conceição Oliveira é imenso: a abnegação, o espírito de
sacrifício, a descrição com que suportou sobressaltos de humor e variações de
sensibilidade se sucessivas equipas dirigentes, aceitando, uma e outra vez, dar
ao futebol do Benfica o melhor do seu esforço. O que os benfiquistas devem a
Toni é, para lá deste exemplo de benfiquismo que não tem paralelo nas últimas
décadas de vida do clube, a alegria de dois dos quatro últimos títulos
nacionais conquistados, em 1989 e em 1994. E as enormes alegrias que os que têm
mais de quarenta anos recordam, enquanto passeou a sua classe de grande
jogador, durante toda a década de setenta.
É que Toni é um ícone do
Sport Lisboa e Benfica: ele é o único a ter acumulado títulos de campeão
nacional como jogador e treinador. Elemento preponderante da equipa-maravilha
dos anos setenta, sustentando o meio campo de um grupo de esmagador futebol de
ataque, Toni ganhou então oito títulos nacionais. Juntem-se-lhe os dois já
referidos e temos números de inédita proeza. Como se não chegasse, também fez a
“dobradinha” na Taça de Portugal: ganhou 3 como jogador e uma como treinador.
Toni iniciou a sua carreira
de treinador como adjunto, na segunda época de Baroti: “Quando estivemos em
Madrid, no início da época 1980/81, fui comprar um livro sobre futebol e o
mister Baroti, quando me viu com ele na mão, virou-se para mim e perguntou-me
se não queria ser seu adjunto. Disse-lhe que não, que queria mesmo é jogar, mas
percebi que a minha carreira como jogador tinha chegado ao fim. Ainda fui
campeão nacional, disputando o último jogo na Luz com o V. Setúbal, partindo
depois, com Baroti, para a minha primeira experiência como adjunto".
Assumiu a responsabilidade
pela equipa principal do clube em 1987, substituindo Ebbe Skovdhal, que se dera
mal com os ares da Luz. Nessa altura, não se perdoavam três derrotas em sete
jornadas, mesmo a um treinador de alto gabarito acabado de chegar. Toni não fez
milagres: já não foi a tempo de ganhar o campeonato, ficou-se pelas
meias-finais da Taça, mas – divina surpresa! – conduziu o Benfica à sua sexta
final da Taça dos Campeões, contra o PSV, em Estugarda, vinte anos depois da
final de Wembley contra o Manchester United.
Toni não era um treinador de
tudo ou nada: privilegiava um futebol de contenção, calculista e cauteloso.
Conhecia bem os jogadores que tinha e uma das suas estrelas, o extremo
Diamantino, lesionado, teve que ver o jogo da linha lateral. Talvez por isso
não tenha ganho a final de Estugarda, contra um PSV que entrou em campo
aterrorizado com o prestígio do Benfica. O treinador esticou a corda até aos
penalties: ao sexto, a estratégia caiu.
Não ganhou, mas embalou a
equipa para um triunfo no campeonato nacional da época seguinte, num onze em
que Veloso era o capitão, Mozer e Ricardo compunham uma dupla de centrais de
luxo, e Paneira, Valdo e Chalana faziam o que lhes estava destinado: ganhar jogos,
nem que fosse pela diferença mínima. Apesar da vitória, aceitou ser adjunto do
mais querido dos treinadores benfiquistas: o sueco Sven-Goran Eriksson. Foi com
ele campeão em 1991, mas, depois da partida do sueco, aceitou render Tomislav
Ivic a meio da época, em nova missão de sacrifício, durante a temporada de
92/93. E no ano seguinte, levando a pulso uma equipa que procurava remediar as
saídas de Paulo Sousa e Pacheco para o Sporting, conquistou o titulo de campeão
nacional.
Entrara para a História do
clube, mas, pela segunda vez, foi preterido em favor de outro. Ganhara,
entretanto, uma reputação de salvador. Mas, quando voltou ao clube, de novo, a
meio da época de 2000/01, nada se comparava com os seus anos de ouro: o
vendaval de loucura que assolara o Benfica durante a presidência de Vale e
Azevedo tinha transformado o maior clube português numa equipa remendada, a
viver de jogadores emprestados ou comprados em última mão. Toni ainda começou a
época de 2001/02; mas não resistiu à onda de maus resultados e, antes que o
mandassem embora, saiu. Sem um reparo, sem azedume, sem uma critica mais ácida.
Como manda a consciência de quem, acima de quaisquer interesses conjunturais,
põe o prestigio e a grandeza do clube que fez seu para toda a vida.
Toni fez o primeiro jogo
como treinador do Benfica a 13 de Dezembro de 1987, numa vitória com o
Académica (4-2), em Coimbra, tendo disputado o último jogo, a 23 de Dezembro de
2001, numa derrota frente ao Boavista (1-0), no Bessa.
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