GRANDES NOMES
LUCIANO
Defesa central de grandes
recursos técnicos, ingressou no Benfica na época de 1963 / 64 proveniente do
Olhanense. Para muitos era o "novo" Germano.
Em Dezembro de 1966, o
universo benfiquista ficou abalado e chocado com a notícia da morte de Luciano,
devido a um curto-circuito ocorrido durante uma sessão de hidromassagem no
Estádio da Luz. Só a pronta intervenção de Jaime Graça ( que tinha sido electricista
), evitou que Eusébio tivesse o triste fim do seu colega de equipa.
Sagrou-se três vezes campeão
nacional e conquistou uma Taça de Portugal. A nível das competições europeias
só efectuou três jogos pelo Benfica ( todos eles na época do seu ingresso no
clube da Luz ).
Foi internacional pela
selecção de "Promessas" num Portugal - Grécia disputado no Estádio
Nacional e que se saldou numa vitória "lusa" por 2 - 1.
A MORTE DE LUCIANO
Luciano Jorge Fernandes
nasceu a 6 de agosto de 1940 e morreu numa manhã de dezembro de 1966, no
Estádio da Luz, há 47 anos. Tinha 26 anos. Foi um acidente horrível, um
curto-circuito numa banheira de massagens. Ainda hoje José Augusto se emociona
ao recordar aqueles momentos. «Lembro-me de tudo desse dia fatídico.»
O Benfica tinha jogado em
casa da Sanjoanense a 4 de dezembro. Aquele era dia de treino de recuperação.
«À terça-feira havia sempre banhos e massagens, no tanque», evoca José Augusto.
«Naquele tempo não havia jacuzzi ou saunas como hoje. Era um aparelho que se
colocava dentro de água e se ligava à eletricidade, para agitar a água e fazer
o efeito de massagem.»
E então, aconteceu. «O cabo
do aparelho era curto, fez-se ali uma extensão e isolou-se a extensão. Mas a
condensação que criava o vapor da água caiu sobre a zona do isolamento e
provocou aquilo, penso que tenha sido isso.»
José Augusto não estava na
banheira, estava no balneário, a preparar-se para se juntar aos companheiros.
«Quando ouvimos uma enorme gritaria fomos a correr.» Já ninguém pôde fazer nada
por Luciano. «Era ele que estava a segurar o aparelho, levou a carga maior.»
«O Luciano teve morte
praticamente instantânea. O doutor Azevedo Gomes ainda tentou, fez-lhe duas
punções diretamente no coração, mas não adiantou.»
José Augusto interrompe a
narrativa. «Estou a lembrar-me disto e a emocionar-me. O Luciano era um jovem.
Era uma jóia de colega. Estava a afirmar-se no Benfica, a tornar-se titular,
com hipóteses de internacionalização.»
Luciano, defesa-central,
tinha chegado ao Benfica em 1963, depois de ter representado o Olhanense, na
cidade onde nasceu. Nessa época tinha feito cinco jogos em nove para o
campeonato, ao todo tem 40 jogos com a camisola encarnada.
De volta ao Estádio da Luz,
naquele dia. Os outros jogadores que estavam na banheira conseguiram fugir a
tempo. Alguns sairam ilesos, outros muito combalidos. José Augusto: «O Malta da
Silva esteve até às cinco da tarde com espasmos. O Carmo Pais recuperou mais
depressa.»
Para evitar uma tragédia
ainda maior valeu a intervenção de Jaime Graça. O antigo médio, que também
estava no tanque, tinha sido aprendiz de eletricista em Setúbal e reagiu
depressa.
Há dois anos, pouco antes da
sua morte, Jaime Graça recordava assim aqueles momentos, em entrevista ao
jornal I: «Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no
fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da
Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o
susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar
como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram
de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.»
Jaime Graça contava que
Eusébio se encontrava igualmente na banheira. «Também estava nesse tanque.
Quando aconteceu, ele até ficou branco. Nem falava, tal era o susto.» Para a
memória coletiva, o médio falecido em fevereiro de 2012 foi muitas vezes
recordado como o homem que salvou a vida a Eusébio.
Daqueles tempos, todos recordam
de resto a enorme cerimónia de homenagem que foi o funeral de Luciano, em
Olhão. A equipa do Benfica seguiu a acompanhar o corpo e a viagem foi
impressionante, diz José Augusto: «Estava muita gente por todo o lado. Em
Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi
uma coisa impressionante.»
O Benfica foi campeão
nacional nessa época. José Augusto não recorda uma homenagem especial do clube
a Luciano, mas diz que ele próprio se deslocou à campa do antigo companheiro
nesse verão. «Fui ao cemitério em Olhão depositar umas flores. Fi-lo em meu
nome e no de todos os companheiros.»
Luciano, três vezes campeão
nacional e vencedor de uma Taça de Portugal, é uma história trágica como houve
mais no futebol português, mas bem menos presente nas recordações do que as
mortes de Pavão ou de Fehér. Hoje, a sua memória perdura na casa do Benfica de
Olhão, que tem um espaço dedicado ao filho da terra. Botas, bolas, troféus,
objetos com história cedidos pela família de Luciano.
Sem comentários:
Enviar um comentário